24
Oftalmologista, Dr. Campos Lopes

Dr. Campos Lopes

Afinal era o direito ou o esquerdo?

Ronaldo já marcou 10 golos, e já marcou 100 e talvez vá marcar 1000. Na terça-feira possivelmente fez 500 anos que nasceu Camões, mas Ronaldo já marcou de cabeça com o pé direito,  com o esquerdo e com a mão (ou seria o Maradona).

Não se foge ao destino e há pessoas do lado certo do destino.

Camões tem uma vida pouco conhecida, particularmente na juventude, e tal como Colombo dava um filme. Nem se percebe porque escritores de aventuras ainda não exploraram esse filão e não há 7 livros com teorias mirabolantes.

“Os Lusíadas” narram a epopeia da viagem de Vasco da Gama à Índia e, no percurso, a história de Portugal.

A vida de Camões também foi uma autêntica epopeia. Por razões de amores partiu para Ceuta onde perdeu um olho em combate. Mais tarde foi para Goa e ainda para Macau. Depois de peripécias e desgraças, entre elas ter naufragado na foz do rio Mekong, e de ter salvado os escritos dos Lusíadas, lá volta a casa, não sem se deter em Moçambique sem dinheiro para embarcar.

No livro “A vida ignorada de Camões” José Hermano Saraiva conta a história do que se sabe e não sabe sobre o poeta, particularmente os amores em que se envolveu em Coimbra, onde fez os seus estudos.

Em “Os Lusíadas”, escritos no Oriente sem apoio de bibliotecas, mostra-nos a sua sólida formação clássica, da mitologia à filosofia e história,  da astronomia à náutica, com a concepção da máquina do mundo, a teoria ptolomaica e a descrição dos astros. Esta erudição e a maneira como usa a língua portuguesa no poema tornam a obra num cânone sem par na literatura.

Na primeira edição de “Os Lusíadas” há 2 versões, uma com o pelicano com a cabeça virada para a direita outra para a esquerda, provavelmente devido a impressões diferentes. Curiosamente não sabemos de certeza absoluta que olho Camões perdeu em Ceuta, se o direito ou esquerdo embora mais frequentemente se fale no olho direito.

O que o sabemos é que na época, como ele próprio afirma, não foi reconhecido o seu mérito à medida da obra que nos deixou, não só “Os Lusíadas” como também a sua vastíssima produção lírica.

 

No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho

Destemperada e a voz enrouquecida,

E não do canto, mas de ver que venho

Cantar a gente surda e endurecida.

O favor com que mais se acende o engenho

Não no dá a pátria, não, que está metida

No gosto da cobiça e na rudeza

Duma austera, apagada e vil tristeza.

 

Figura 1. Primeira edição de 1572 dos Lusíadas em exposição na Câmara do Porto

figura 2. Retrato de Camões, edição de Emílio Biel, Porto 1880.

Optimized with PageSpeed Ninja