Heterónimos e COVID-19
“Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor.
O que fui outrora foi um desejo; partiu-se.
Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando.
Não estarei bem se não me deitar na cama.
Nunca estive bem senão deitando-me no universo.
Excusez un peu… Que grande constipação física!
Preciso de verdade e da aspirina.”
Álvaro de Campos
Quando se fala em heterónimos, pensa-se em Fernando Pessoa.
Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, só para referir os três mais importantes, tinham data de nascimento, carta astral, identidade psicológica e escritos próprios.
O outono vem aí. Ao primeiro espirro ou secreção do nariz, estou “constipado”.
Estar “constipado” diz tudo e não diz nada em concreto, já que as diversas origens desta manifestação também têm a sua identidade própria.
As três mais importantes são:
– A gripe provocada pelo vírus da influenza é uma doença respiratória aguda típica do inverno que se caracteriza por um começo abrupto de febre, dores de cabeça, mialgias e mal-estar geral acompanhados de tosse, dor de garganta e rinorreia (secreções nasais). A principal complicação possível é a pneumonia. Por isso tem sido aconselhada a vacinação, principalmente em idosos e doentes crónicos.
– A constipação propriamente dita (coriza) é a mais leve e é provocada por rinovírus e algumas estirpes de coronavírus. O tratamento é sintomático e muitos doentes nem sequer requerem tratamento.
– A COVID-19 provocada pelo vírus SARS-CoV-2 é a mais temida, pois não tem imunidade estabelecida e pode provocar complicações graves.
A incidência da COVID 19 está a aumentar e vamos entrar no período da gripe sazonal.
Então com um espirro e secreção nasal, que fazer agora?
Temos de diminuir ao máximo o risco de contrair qualquer infeção respiratória vírica desta época. E isso só se consegue com ainda mais restrições de contactos sociais, sendo que ultimamente o contágio familiar tem aumentado. A rotina do uso de máscara tem de ser universal e estendida a quase todas as situações. A desinfeção das mãos é primordial. A criação de rotinas sem exceções tem que ser levada a sério. Provavelmente este inverno será o que vai ter menor número de infeções respiratórias por gripe.
As autoridades de saúde pública vão com certeza dar instruções em relação a quando fazer testes. Já existe um teste feito com mucosa da boca de resultado muito rápido. Se este teste for generalizado rapidamente, pode até ser usado em casa.
O vírus da COVID 19 tem sofrido mutações e aparentemente está menos virulento. Neste momento, com conhecimento do vírus de há mais de seis meses, já temos protocolos de tratamento antivírico, anticoagulante e de diminuição da cascata inflamatória provocada pelo vírus. E o sistema de saúde está organizado e mais bem preparado se o novo surto surgir.
Temos que ter sempre presente os seguintes pontos:
A epidemiologia, se houver contacto com doente infetado
Os sintomas típicos da doença – febre, falta de ar, astenia (fadiga)
Atenção às associações – um doente com uma simples rinorreia, se teve contacto com um infetado, tem que ser testado
A pesquisa para vacina da COVID-19 está acelerada e a ser feita em vários pontos do mundo. Vai surgir muito mais cedo do que em circunstâncias normais.