Faz este mês 50 anos que entrei em Medicina, e dentro de dias 35 anos que iniciei a prática clínica de Oftalmologia na Avenida da Boavista, no Porto.
Mas quando é que nós, ou Portugal, faz anos. A partir de quando é que Portugal é um Estado independente? Parece uma pergunta óbvia e fácil mas não é.
Na Idade Média existiam castelos com domínios ao redor e foram-se criando entidades maiores, os reinos. Não havia uma estrutura global e a Igreja era quem representava esse poder.
Dona Teresa, aquando da morte do Conde Dom Henrique, já se intitulava rainha, pois era filha de rei, mas governava apenas o Condado Portucalense.
Não se sabe quando nasceu D. Afonso Henriques, e se em Guimarães, Coimbra ou Viseu. Documentos da época situam a mãe em Viseu, quando ele nasceu. A questão mantém-se em aberto.
Entretanto foi-se criando uma narrativa heroica.
Nas crises dinásticas de D. João I e D. João IV, nos escritos de Duarte Galvão e dos frades de Alcobaça, da Monarquia Lusitana, D. Afonso Henriques foi mitificado:
Disse-se que nasceu aleijado das pernas mas houve um milagre e curou-se; e que se revoltou contra a mãe e os condes galegos e maltratou-a, derrotando-a em São Mamede; que foi amaldiçoado por ela; que mais tarde em Badajoz feriu-se e ficou incapacitado para a vida; e que em Ourique, antes da batalha lhe apareceu Cristo, deu-se um milagre e Portugal seria um país independente para sempre.
D. Afonso Henriques em 1125 arma-se a si próprio cavaleiro na Catedral de Zamora, como faziam os Reis.
S. Mamede, o confronto entre mãe e filho em 1128, foi considerado por Alexandre Herculano a primeira tarde portuguesa.
Após a batalha de Ourique, a 25 de julho de 1139, em que derrotou 5 reis mouros, começou a usar o título de rei, pode até ter sido aclamado em cima do pavêz ( escudo ), tornando-se este o próprio símbolo da nação, escudo com as quinas – os 5 reis mouros ou as 5 chagas de Cristo.
Numa capela de Santa Luzia em Campos, Vila Nova de Cerveira, existe uma inscrição datada de 1138, que dá tratamento de rei a D. Afonso Henriques e refere que já reinava em 1139 após a vitória da mítica batalha de Ourique.
Os documentos começam a referir D. Afonso Henriques com o título de rei, mas é finalmente em 1143, em Zamora, com o patrocínio do legado do papa Guido de Vico, que D. Afonso VII de Castela e Leão reconhece o novo rei de Portugal, embora ainda sendo seu suzerano, Imperador de todas as Hispanias.
D. Afonso Henriques, ainda nesse ano, 1143,ofereceu o seu reino à Igreja e declarou-se vassalo de S. Pedro e do Pontífice.
Em 1157 morre D. Afonso VII e desaparece o título de Imperador.
Mas somente em 1179, com a bula Manifestis Probatum, a Santa Sé reconhece a nova monarquia.
Teríamos que esperar pelo ano de 1238 para o território ser geograficamente o que é hoje, e um dos mais antigos da Europa com fronteiras definidas.
Quando se pode considerar a data da Independência de Portugal?
Não vai haver consenso, mas a 5/10/1143 D. Afonso VII de Leão e Castela concede o título de rei a D. Afonso Henriques.
Do exposto vamos ter várias datas para comemorar, com diferentes gostos. S Mamede, Ourique, Zamora. A data de 5/10/1143 do acordo de Zamora pode ser uma boa data para se considerar a formação de Portugal.
Faz Hoje 880 anos, e considerando essa data temos 20 anos para arranjar um bolo suficientemente grande para albergar 900 velinhas.
A clínica fica-se pelas 35 velas
Figura 1. Mapa ptolomaico da península semelhante ao que existiria no tempo de D. Afonso Henriques. Notem-se os rios mais importantes, principal relevo que foi determinando as fronteiras ao longo do tempo.
Figura 2. D. Afonso Henriques, estátua em Guimarães.
Figura 3 Genealogia Iluminada do Infante D. Fernando, António Holanda
Figura 4 Espada de D. Afonso Henriques, Museu Militar do Porto
Figura 5. Mapa com as datas das fronteiras. À data da Independência ainda não se tinha concluído a Reconquista.
Figura 6 Batalha de São Mamede, mural da Assembleia da República.
Figura 7 Batalha de Ourique painel de azulejos, Capela Real, Castro Verde. O local da batalha pode ter sido perto de Leiria ou do Cartaxo.
Figura 8. Capela de Santa Luzia, em Campos, Vila Nova de Cerveira. Onde aparece pela primeira vez o título de rei – D. Afonso Henriques
Figura 9 Conferência de Zamora, painel de azulejos em Portimão, cidade onde nasceu Manuel Teixeira Gomes que faz hoje 100 anos que tomou posse como Presidente da República. República que perfaz hoje 103 anos.
Figura 10. Bula Manifestis Probatum, como foi mostrada na exposição “ Nos Confins da Idade Média”.
Figura 11 Chancelaria de D. Afonso Henriques, Ruy Azevedo.
Figura 12 Crónica de D. Afonso Henriques, de Duarte Galvão.
Figura 13. O Condado Portucalense
Figura 14. Monarquia Lusitana.