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Oftalmologista, Dr. Campos Lopes

Dr. Campos Lopes

FERNÃO DE MAGALHÃES E A VOLTA AO MUNDO – VITAMINA C E OS OLHOS

 

“Deus quis que a terra fosse toda uma

Que o mar unisse, já não separasse”

Fernando Pessoa, in Mensagem

 

Faz hoje 500 anos que a nau Vitória regressou a Sanlúcar de Barrameda, na foz do Guadalquivir, após dar a volta ao mundo em praticamente três anos.

Fernão de Magalhães, provavelmente nascido no Porto, já não estava presente à chegada, pois morreu nas Filipinas, durante a primeira viagem de circum-navegação, completada por Sebastião Delcano.

Das 5 naus e 250 homens, restava uma embarcação e dúzia e meia de marinheiros. Entre eles estava Antonio Pigafetta, “o Lombardo”, que nasceu em Vicenza e deixou um relato da viagem que se tornaria famoso.

Cristóvão Colombo propôs aos Reis Católicos de Castela e Aragão a descoberta do Catai (China) e Cipango (Japão) por oeste, mas apesar de o continuar a afirmar até morrer, nunca passou das Caraíbas e Venezuela.

Talvez por isso, quando Fernão de Magalhães propôs a Carlos I de Espanha atingir as Molucas por oeste e provar que estavam no lado espanhol do Tratado de Tordesilhas, o monarca aceitou.

Fernão de Magalhães estava acompanhado dos irmãos Rui e Francisco Faleiro, cosmógrafos portugueses que conjuntamente planearam a viagem e a expuseram ao rei espanhol. Aos olhos da época, isto era considerado traição. Não é de admirar que o rei português assim o achasse e tivesse feito tudo para evitar a viagem. Não nos esqueçamos que após o regresso desta expedição Carlos I reclamou as Molucas para si e só após uma indeminização enorme (350 mil ducados de ouro) se manteve o que já era um posto comercial português, situado do lado português do meridiano.

A questão da viagem de Fernão de Magalhães / Rui Faleiro foi a resolução de um problema de longitude, a extensão do Oceano Pacífico, e saber onde ficavam as Molucas em relação ao anti-meridiano de Tordesilhas, se para este ou oeste, ou seja, na zona de Espanha ou de Portugal.

Na frota iam apenas 30 portugueses pois o rei de Espanha impôs um número limitado, mas eram o capitão, pilotos e mestres, de tal modo que Denucé considerou a viagem uma empresa portuguesa com pavilhão espanhol.

 

Sobre a questão de a Terra ser redonda já se especulava desde o tempo dos gregos clássicos, segundo a teoria de Pitágoras (séc. VI a. C.). Também Eratóstenes de Cirene (276-194 a. C.) adoptava já um sistema de coordenadas latitude/longitude para referir os lugares à superfície do globo, e determinou o diâmetro da terra com uma precisão impressionante.

O que ninguém sabia era a extensão do Oceano Pacífico e, portanto, a localização das Molucas (Malucas, na designação da altura), e esse foi o objetivo da viagem de Fernão de Magalhães, que supostamente ia regressar através do estreito entre o Pacífico e o Atlântico, se não tivesse ele morrido nas Filipinas.

Passado o Mar Oceano (Atlântico) através do estreito posteriormente designado com o seu nome, que o ligava ao Mar do Sul (Pacífico, designação criada por ele por ser de calmarias) a viagem parecia nunca mais acabar.

Quando Fernão de Magalhães chegou às Filipinas, decerto se apercebeu que a extensão do oceano podia colocar as Molucas do lado português. Será possível que a sua refrega com os indígenas, que todos dizem ter sido extemporânea e suicida, não teria sido voluntária? 

Uma das doenças terríveis da navegação de longo curso dos descobrimentos era o escorbuto.

O escorbuto é uma deficiência em vitamina C por falta de alimentos ricos nesta vitamina.

É uma vitamina importante na formação do colagénio, cortisol das suprarrenais, na absorção intestinal de ferro e na resposta imunitária. 

A vitamina C é um potente antioxidante e encontra-se em alta concentração particularmente nos citrinos, morangos, tomate, batatas, couve de Bruxelas, couve-flor, brócolos e espinafres.

É importante ter uma dieta rica em vitamina C.

E o Oftalmologista, como a encara esta questão?

Na catarata de tipo esclerose nuclear, a vitamina C parece ter um papel protetor.

Na degenerescência macular da retina a fórmula farmacológica do estudo AREDS2 tem vitamina C. Embora não seja considerada um tratamento, ao contrário das injeções intra-vítreas, de inibidores da VEGF, em casos moderados a avançados é recomendada.

Calcula-se que com todos os desvios e explorações a nau Vitória tenha percorrido 42 mil milhas, ou seja, 78 mil quilómetros, quase duas voltas ao mundo. Curioso é que o grupo de sobreviventes que regressaram tinham escorbuto apesar de transportarem um carregamento enorme de cravinho rico em vitamina C. Sebastião Delcano e Pigafetta foram comendo marmelada, doce reservado aos oficiais, e assim se salvaram-se sem o perceber.

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