Dia 2 de dezembro é o dia de aniversário da Clínica.
A linha do tempo é inexorável e não pára de avançar.
Nos anos 80 estive ligado ao Departamento de Anatomia da Universidade de Witwatersrand, onde conheci o crânio de Taung, o primeiro Australopiteco descoberto numa gruta perto de Joanesburgo, na África do Sul, e descrito por Raymond Dart em 1924.
A família dos hominídeos tem vindo a ser cada vez mais bem conhecida.
A caminhada da evolução começou com o Australopiteco há três/quatro milhões de anos na África austral e de leste. De seguida surge o Homo habilis, cujo descendente mais recente é o Homo neandertal, que saiu de África e se dispersou pela Eurásia. Houve miscigenação desta espécie com o Homo sapiens e ainda hoje temos no nosso genoma uma percentagem de Neandertal de cerca de 3%, embora diferente nos vários continentes.
A Covid-19 afeta mais quem tem esse genoma de Neandertal. Por isso é que os africanos e os habitantes da Ásia do Norte estão protegidos das formas graves de Covid-19.
Por fim surge o Homo sapiens. Espalhou-se por todo o mundo, destronou todas as outras e tornou-se a espécie dominante. Isto foi apenas há 2000 gerações e, portanto, é nosso avô em dois milésimo grau.
Por ser bípede e caçador recolector, ao longo do tempo criou um padrão de fisiologia com necessidade de grandes caminhadas e atividade física, associado à acumulação de gordura para os tempos de fome. Isto está impresso no nosso genoma, e é por isso que ao contrário dos símios temos de ter uma atividade física muito intensa para nos protegermos das doenças cardiovasculares e da obesidade.
Mesmo em relação aos olhos, há estudos que associam o exercício físico à proteção da degenerescência macular (DMI), do glaucoma por melhoria do fluxo sanguíneo no nervo óptico (como oftalmologista imagino que será mais importante no glaucoma de baixa tensão) e da retinopatia diabética por melhor controlo metabólico.
A linha do tempo continua, e nós devemos caminhar com vigor no mínimo trinta minutos por dia, cinco dias por semana, para nos mantermos em forma a todos os níveis e percorrermos a linha do tempo com baixa morbilidade e mortalidade.
Referências:
Svante Pääbo, The major genetic risk factor for severe COVID-19 is inherited from Neandertals, Nature, September 2020.
Ryan Makin, Voluntary Exercise Suppresses Choroidal Neovascularization in Mice, Retinal Cell Biology, May 2020.
V Tseng, Association between Exercise Intensity and Glaucoma in the National Health and Nutrition Examination Survey, Ophthalmology Glaucoma, AAO, September 2020.
