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Oftalmologista, Dr. Campos Lopes

Dr. Campos Lopes

Portugal e Inglaterra – Oftalmologista e catarata

Portugal e Inglaterra    Oftalmologista e catarata

No dia 12 de outubro de 1943 o Primeiro Ministro inglês, Winston Churchill fez um discurso no Parlamento, a propósito dos Açores, que começava assim:

 “ Cumpre-me fazer uma declaração a esta Câmara que é uma consequência do tratado concluído entre este país e Portugal no ano de 1373 por suas majestades o rei Eduardo III e o rei Fernando e a rainha Leonor de Portugal (…) Este tratado foi reforçado de várias formas por tratados assinados em 1386, 1634, 1654, 1660, 1661, 1703 e 1815, e por uma declaração secreta em 1899. Em tempos mais recentes a validade dos tratados antigos foi reconhecida nos Tratados de Arbitragem concluídos com Portugal em 1904 e 1914.

Este compromisso tem durado agora quase 600 anos e é algo sem paralelo na história mundial”.

Em 1352 um comerciante do Porto chamado Afonso Martim Alho negociava com a Inglaterra acordos comerciais. Em 1353 em nome do rei português assinou um acordo de comércio e direito de pescas com Inglaterra. Finalmente em 1373 foi assinado o tratado de Westminster entre os dois monarcas.

John de Gaunt, duque de Lencastre, candidato ao trono de Castela, foi ajudado por D. João I na sua pretensão. Mais tarde o rei português casou com sua filha Filipa, mãe da Ínclita geração, tendo com isso ajudado a consolidação da  dinastia de Avis.

A batalha de Aljubarrota contou com arqueiros ingleses que contribuíram para uma esmagadora derrota de Castela..

No início da terceira dinastia foi acordado o casamento de D. Catarina de Bragança com o rei inglês Carlos II tendo levado como dote as cidades de Bombaim e Tânger e uma fortuna em ducados de ouro. Ficou famosa por tornar o chá um hábito nacional inglês, e o apoio de Inglaterra consolidou a independência nacional.

O Porto ( Oporto, daí o OPO do aeroporto) tem uma tradição antiga de relação com Inglaterra. Quem olhar da Ribeira para V. N. de Gaia vai ver muitos reclames luminosos com nomes ingleses. Em 1700 houve um tratado, de Methuen, que acordou trocas privilegiadas de lanifícios e vinhos entre os dois países. Isto promoveu o vinho do Porto e a comunidade britânica na cidade. Como as trocas eram deficitárias para Portugal o ouro do Brasil transitou para Inglaterra e ajudou a sua Revolução Industrial, a primeira a nível mundial.

Na Guerra Peninsular, as chamadas invasões francesas,  o apoio Inglês foi decisivo na derrota de Napoleão e dos aliados espanhóis na tentativa de conquita e repartição do reino. O país manteve a independência mas ficou muito dependente de Inglaterra.

Já mais recentemente o Ultimato Inglês destruiu o sonho de uma colónia africana de costa a costa, mas proporcionou duas colónias talvez maiores do que seria de esperar, em cada costa. Indiretamente o Ultimato contribuiu para o fim da monarquia, tão querida do ingleses, e o início do regime republicano em Portugal.

Mas qual foi provavelmente a maior contribuição da Inglaterra para a oftalmologia?

 Harold Ridley, oftalmologista inglês, ao examinar durante a Segunda Guerra Mundial pilotos da RAF com estilhaços de perspex (acrílico) provenientes do cockpit dos aviões, reparou que estes não provocavam qualquer reação no olho. Em 1949 inventou o primeiro implante intraocular que substitui o cristalino, a lente natural do olho. Trata-se de um desenvolvimento na cirurgia que com maior frequência se realiza em oftalmologia, com um grau de sucesso e satisfação dos doentes extraordinário. A cirurgia às cataratas é uma microcirurgia, portanto não existem incisões operatórias clássicas e a cicatrização é muito rápida. Não se aplica penso ocular e a visão é recuperada no próprio dia da cirurgia.

Não vamos mais ver a insígnia ER (Elisabeth Regina) mas o tratado que fará 650 anos no próximo ano continua a ser o mais antigo e irrepetível do mundo. Na rua com o nome de Afonso Martin Alho ainda há pouco tempo podíamos ver a Adega do Olho uma tasca tradicional do Porto, O adágio popular “  é fino como um ( o ) Alho “ diz-nos que os nossos antepassados foram gentes que tinham saberes acima da média.

No entanto, em tudo há luz e sombra.

Os ingleses após assinarem a convenção  de Sintra  com os derrotados franceses, e sem a presença de qualquer português, levaram Junot na frota inglesa para França, este foi de armas e bagagens…( do saque realizado nas invasões). Durante a Restauração e na Guerra Peninsular a Inglaterra  obrigou-nos a acordos comerciais muito amplos. O mapa cor de rosa provavelmente ajudou a cair a monarquia. 

Mas somos um país independente e com política e vontade própria com uma história que dá gosto ler.

Figura 1 Selo comemorativo com o oftalmologista  Harold Ridley.

Figura 2  Gravura inglesa de 1777 ( a primeira do Porto ) com a muralha fernandina como existia no época de Afonso Martim Alho.

 Figura 3 Batalha de Aljubarrota, onde estiveram presentes os arqueiros ingleses

Figura 4 Mapa inglês do Porto com a Sé onde casou D. João I com Dona Filipa de Lencastre, a Alfandega Velha (Casa do Infante) onde nasceu o Infante D. Henrique e a Ponte das Barcas onde ocorreu o acidente devido à invasão francesa de Junot

Figura 5 Brasão de Catarina com o dragão dos Braganças, o mesmo do antigo brasão da cidade do Porto, do F. C. do Porto e do estádio de futebol.

Figura 6  Isabel II com insígnias E.R. – “Elisabeth Regina”

Figura 7 Livro sobre a história do Império Britânico onde Niall Ferguson explica o papel dos corsários na sua formação, com apoio da coroa inglesa 

Figura 8 Rua de Afonso Martim Alho no Porto com a adega do Olho.

Figura 9  Gravura do casamento de D. João I e D. Filipa de Lencastre na Sé do Porto

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