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Oftalmologista, Dr. Campos Lopes

Dr. Campos Lopes

Pensando no ano que terminou, o que há de novo para um oftalmologista

Pensando no ano que terminou, o que há de novo para um oftalmologista

No estudo da doença Telangiectasias Maculares – MacTel, que se pensava ser de origem vascular, descobriu-se que se trata de uma doença das células de Müller  (células gliais da retina). Há uma diminuição da produção de CNTF  (Ciliary Neurotrophic Factor) e com esta deficiência  deixa de haver proteção  dos neurorreceptores – células fotossensíveis da retina.

Está em estudo um tratamento ECT ( Encapsulated Cell Therapy) que consiste em implantar no olho uma pequena cápsula que contém células de epitélio pigmentado da retina modificadas com plasmídeo de ADN, que produzem uma proteína CNTF neuroprotetora. Na prática, é como se estivéssemos a instalar uma pequena fábrica de um medicamento diretamente no olho.

Esta tecnologia tem potencial de uso em doenças da retina e no glaucoma e pode ser revolucionária.

A degenerescência macular da idade – DMI – atinge um quarto da população com mais de 60 anos afetando a mácula, a zona central da retina, responsável pela visão de pormenor e cor. Em 2012, Jody Rosenblatt, do King’s College de Londres, descreveu um processo de extrusão de células vivas que são mecanicamente ejetadas do epitélio, acabando por morrer. Recentemente demonstrou-se que também acontece na retina, provocando neurodegeneração. Em estudos de organóides de retina, modelo celular de células de retina, filmaram-se em laboratório imagens ao vivo de extrusão celular de fotorreceptores aparentemente ativadas pela proteína PIEZO1. Em Dresden, na Alemanha, descobriram que há um agente farmacológico, um veneno de cobra, que previne a extrusão celular e, portanto, a degeneração de células da retina.

Prepara-se também uma terapêutica genética para a DMI e um tratamento inovador para a atrofia geográfica.

Seguiremos estes avanços com grande expectativa.

QUARTZ – Quantative Analysis of Retinal Vessels Topology and Size

As alterações morfológicas dos vasos da retina são um marcador de risco da doença cardiovascular, metabólicas e outras. O objetivo é criar automaticamente com inteligência artificial – IA, uma análise dos vasos da retina com algoritmos através de aprendizagem de máquina (machine learning ).

A avaliação principal é o diâmetro e tortuosidade das arteríolas e vénulas da retina, que representam um biomarcador para doenças cardiovasculares.

O processo está em fase de implementação. Na nossa clínica no Porto há anos que utilizamos a retinografia e avaliamos o estado dos vasos da retina pela fotografia, aconselhando os doentes com alterações a serem examinados pelo médico de família ou o cardiologista.

A ciência não pára de avançar e de nos surpreender.

Vem aí um 2023 com mais novidades.

Bom Ano

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