10 de junho – Pedro Nunes – Visão crepuscular
10 DE JUNHO – PEDRO NUNES – VISÃO CREPUSCULAR
A bandeira é o símbolo da nação.
O pavilhão português foi azul e branco (cores do ducado da Borgonha do Conde D. Henrique) durante quase oitocentos anos e verde e vermelho, cores da república, há cento e dez anos.
A nossa bandeira é uma das poucas que tem um símbolo heráldico. A heráldica nasceu pouco antes de D. Afonso Henriques, associada aos cavaleiros que tinham necessidade de ser identificados com cada vez mais elementos nas armaduras. Assim surgem os símbolos na armadura, no elmo, no cavalo e principalmente no escudo. Este era o mais importante e ficou conhecido por Escudo ou Brazão de Armas. D. Afonso Henriques adota o seu como símbolo do país.
O brasão é composto por um escudo com cinco escudetes – as quinas – em forma de cruz, talvez a lembrar os cinco reis mouros da batalha de Ourique ou as chagas de Cristo. Cada escudete tem cinco besantes (dinheiros) que com as próprias quinas perfazem trinta, a lembrar os trinta dinheiros com que Judas vendera Cristo. As conotações cristológicas estavam de acordo com os preceitos medievais e mitificavam o Rei e o reino.
Com D. Afonso III surgem os sete castelos, não havendo certezas sobre a sua identificação. Existe uma teoria segundo a qual se trata dos castelos conquistados no Algarve: Estômbar, Paderne, Aljezur, Albufeira, Cacela, Sagres e Castro Marim. Outra tese defende que seriam os castelos conquistados por D. Afonso Henriques aos mouros, nomeadamente Coimbra, Óbidos, Santarém, Lisboa, Palmela, Ourique e Évora, embora esta seja altamente improvável.
Em agosto de 1484 D. João II apunhala o irmão da rainha, o Duque de Viseu, por conjura contra si. Ato contínuo chama D. Manuel, irmão do Duque, garante-lhe segurança e oferece-lhe o trono, o ducado de Beja e um símbolo pessoal – a esfera armilar. Quando este sobe ao trono, adota-a como símbolo da nação.
A esfera armilar é um modelo de representação do universo, com a terra no centro e os anéis celestes nos aros (armilas).
O tratado da esfera, escrito pelo monge escocês João de Sacrobosco (nome latinizado de John Hollywood), teve um grande impacto na época, e foi traduzido para português por Pedro Nunes.
Pedro Nunes, médico de formação, um dos maiores cientistas portugueses de sempre, foi cosmógrafo-mor do reino e matemático conceituado por toda a Europa. Ficou conhecido pelo nónio (do latim Petrus Nonius), mas de facto tem uma obra vasta.
De Crepusculi, talvez a sua obra mais sofisticada, é um ensaio sobre o crepúsculo muito interessante e reconhecido além-fronteiras.
A visão crepuscular, ou mesópica, é a visão intermédia entre a de dia (fotópica) e a noturna (escotópica). Como só temos dois tipos de receptores na retina, os cones, para a visão de mais alta luminosidade, e os bastonetes para a visão de baixa luminosidade, ao lusco-fusco temos uma a aumentar e a outra a diminuir, sendo um período de visão sub-óptima.
Em oftalmologia testamos a visão crepuscular com um sistema de grelhas de sensibilidade ao contraste usando filtros em quarto escuro. Utiliza-se nos exames para a carta de condução e aeronáutica.
Hoje ao fim da tarde é uma boa hora para recordar Pedro Nunes e os vários símbolos da Nação.
Tratado da Esfera, De Crepusculi Pedro Nunes,Porta Afonsina Séc. XIII, muralhas de Valença.