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Alimentação e Degenerescência Macular da idade – DMI  Parte 2

A afirmação “Nós somos o que comemos” é tão verdade que devemos pensar bem nas 30 toneladas (30000 Kg) de alimentos e nos 50000 litros de líquidos que ingerimos durante a nossa vida.(1)

Na primeira parte falámos da dieta mediterrânica  e das Zonas Azuis e de como o oftalmologista podia intervir com a dieta na DMI – Degenerescência Macular da Idade. Um ponto importante é combater o stress oxidativo. A dieta rica em antioxidantes é universalmente aceite como a mais eficaz.

No império romano, no século I, Celso definiu as quatro características da inflamação (calor, rubor, tumor e dor), e Galeno acrescentou a diminuição da função do órgão inflamado. O que não se sabia então é que a inflamação é um fator tóxico para o organismo. As substâncias libertadas na inflamação são prejudiciais para o normal metabolismo. A inflamação crónica está cada vez mais implicada em problemas de saúde. Na dieta há alimentos pró e anti-inflamatórios.

Por exemplo, as células senescentes libertam químicos pró-inflamatórios e as alcaparras com quercetina eliminam essas células envelhecidas.

O bioma, isto é, o conjunto de microrganismos que coabitam no nosso corpo, particularmente no intestino, tem um papel muito importante na saúde – são em maior número que a totalidade das nossas células e representam, somente os do intestino,  200g da massa corporal. A dieta rica em bactérias vivas como o iogurte e os picles, e alimentos ricos em nutrientes dessas bactérias, por exemplo as leguminosas, é muito saudável. Ao interferirmos com o bioma intestinal através da dieta podemos aumentar por exemplo os ácidos gordos de cadeia curta, um fator positivo para o organismo. A redução da inflamação é um dos objetivos da dieta. Aparentemente, a exposição à luz solar, moderada, também tem um efeito de diminuição da desregulação imunológica e na expressão de genes.

Não se consegue mudar a nossa genética herdada, mas a epigenética é a modulação dos genes. Pode ser atingida com certo tipo de dieta, modificando positivamente o metabolismo celular pela expressão dos genes. As frutas, vegetais, legumes, as nozes e sementes ou peixes ricos em ómega três, assim como certas especiarias ( açafrão, canela e curcuma ) são alimentos recomendados. Esta é também a dieta para umas mitocôndrias saudáveis – as centrais de energia das células No futuro iremos ouvir falar muito mais das mitocôndrias.

Os microplásticos, metais pesados e pesticidas na alimentação e na água vão continuar a ser uma preocupação pela sua toxicidade e efeitos nefastos, que são cada vez mais conhecidos, inclusivamente nos produtos de beleza.

Caminhar pela natureza é considerado muito saudável, o que não sabíamos é que ao respirar por exemplo na floresta, ou junto ao mar, inalamos micronutrientes, como o iodo, que aumentam o seu teor no nosso organismo. Já se fala em aeronutrição.

A nova tendência é o jejum e particularmente o jejum intermitente. para levar o organismo a utilizar o metabolismo dos lipídios em vez da glicose para obter energia. Ao eliminar a glicose e o glicogénio do fígado, o organismo vai depender dos corpos cetónicos. As próprias células em ambiente de baixa energia tornam-se mais eficazes e vão consumir elementos deteriorados intracelulares, ficando “mais saudáveis”

A “melhor dieta” seria, portanto, a fome…

Há uma história conhecida que se refere a companhias aéreas. Os gestores decidiram eliminar uma azeitona no serviço de refeições a bordo, o que, multiplicado por todos os voos durante um ano, foi considerado um ato de gestão assinalável. Não seria também  de adotar, por exemplo, uma alcaparra na nossa dieta, um ato de gestão alimentar? 

Foi sugerido por um autor criar a ideia de “job” (trabalho / tarefa) para colocar o exercício físico como uma prioridade na nossa rotina diária, pois era a mudança mais importante que podíamos fazer em termos de saúde. Não seria de pensar em outros “Jobs”?

Os estudos do AREDS (2), sobre a influência da dieta e suplementos  na Degenerescência Macular revelaram que com suplementação diminuía o risco de progressão da doença para fases mais avançadas. Em estudos subsequentes revelaram que o peixe gordo era mais eficaz que suplementos de ómega 3. Há componentes importantes dos alimentos que desconhecemos.

Fala-se da química da vida, do amor, do humor mas com substâncias como o sulforafano (bróculos), autocianinas (mirtilos), capsaicina (pimentos), resveratrol (uvas), licopeno (tomates), catequinas (cerejas) entre outras, temos um conjunto de componentes das plantas com efeitos benéficos para a saúde a todos os níveis.

A farmacopeia clássica é toda derivada da botânica, Dioscórides, grego do séc I D.C., foi o precursor com o livro ” De Materia Medica “. O médico português Garcia da Orta foi o ponto de viragem no estudo da botânica e farmacopeia. Na sua obra “Colóquios dos simples e drogas e coisas medicinais da Índia”, ele foi um pioneiro na introdução de um novo método científico baseado na observação e na validação da informação anteriormente conhecida. A obra é considerada um marco do Renascimento, destacando a importância da experiência prática, foi rapidamente traduzida em várias línguas e teve muitas edições no século XVI.

E assim este frase tem mais força:

“O melhor tratamento é a dieta”

(afirmação atribuída a Hipócrates (460-377 A.C.)

Como dizem os ingleses “food for thought” (3)

1- A água é um alimento a não esquecer, particularmente no Verão, e o seu consumo é normalmente insuficiente, o que obriga os rins a maior esforço pela  libertação da vasopressina que altera a reação do organismo ao stress ( cortisol )

2- Os estudos AREDS I e II comprovaram que o uso de suplementos adiava a progressão da doença DMI. É praticamente a única doença em que está comprovada a eficácia de suplementos.

3- Algo para pensar/considerar

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