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O presente é incerto mas ” o futuro próximo é certo!” – a computação quântica

O que faz mexer o mundo é a tecnologia e o comércio, desde a roda e as trocas de âmbar, até às Revoluções Industriais. A primeira com a máquina a vapor, o início da automação e a Inglaterra a dominar o mundo (diz-se que com a ajuda do ouro português do Brasil, após a ida da corte para o Rio de Janeiro, nas invasões francesas); a segunda com o petróleo, o motor a combustão e a eletricidade, com a Europa dominante; a terceira, a técnico-científica, com os computadores, a Internet e as nuvens (cloud computing), com os Estados Unidos preponderantes. Tudo associado a uma disseminação enorme global pelos quatro cantos do mundo, provocando um autêntico tsunami que vai varrendo tudo à sua frente, porque o ajustamento tem que se fazer.

Agora a IA, que ainda está numa fase inicial e vai continuar a desenvolver-se.

A robótica/automação vão generalizar-se e tornar o dia a dia irreconhecíveis.

As tecnologias verde/sustentabilidade vão continuar o seu caminho, induzidas pela carbonização iniciada nas duas primeiras revoluções industriais, e já são o futuro. Entretanto, a necessidade de matérias raras para as novas tecnologias cria linhas de fratura nas nações.

A computação quântica vem a seguir e provavelmente vai desencadear uma nova revolução. A escala de computação vai disparar e com ela é difícil imaginar o que vai acontecer e quem vai dominar. A China espreita a sua oportunidade.

A teoria quântica é muito difícil de perceber, mas simplificando no que interessa à computação, em vez do bit ( on ou off binário), o Qbit tem os estados on, off, ou uma superposição deles, só realizável à escala atómica, que permite realizar computações complexas mais eficientemente do que com bits.

A dificuldade de entender a teoria deve-se a que a realidade do infinitamente pequeno não é como a idealizamos. Não existe um modelo de tipo sistema solar com núcleo central e eletrões à volta. A realidade quântica é matemática com conceitos não visualizáveis e propriedades exóticas.

Max Plank, em 1900, foi o precursor, com a definição de quantum, no estudo da radiação eletromagnética emitida pelos corpos aquecidos – a energia não como um contínuo mas em porções discretas, não como uma rampa mas como que em degraus. Einstein definiu o fotão, a natureza corpuscular da luz, e posteriormente determinou a causa dessa emissão nos corpos aquecidos, com níveis de energia quantizáveis na vibração dos átomos. Temos, portanto, uma natureza dual corpúsculo/onda. De Broglie generalizou o conceito a toda a matéria. Heisenberg definiu o Princípio da Incerteza, pois existe um limite na nossa capacidade de conhecer certas propriedades das partículas subatómicas ( posição e momento- velocidade) e o próprio observador interfere com a realidade. Schrödinger cria a descrição matemática da função de onda. Com Dirac aplica-se com sucesso a relatividade às propriedades do eletrão, no contexto da mecânica quântica. Seguiu-se a teoria unificada dos campos, que é o modelo padrão da física das partículas. O futuro pode vir a trazer o que se poderia chamar a gravidade quântica, unindo as duas teorias ainda inconciliáveis a da relatividade geral e a quântica. O infinitamente grande e o infinitamente pequeno podem vir a ser finalmente unificados numa única teoria.

A física quântica trouxe-nos conceitos novos como a superposição de estados, e o emaranhamento quântico, que deram explicações a fenómenos antes não compreendidos e criaram novas áreas do conhecimento espalhadas pelo nosso dia a dia, como por exemplo os chips, telemóveis, GPS, lasers, Ressonância Magnética e o OCT. Aparentemente representam 30% do PIB americano. Com os computadores quânticos vamos ter um “game changer”.

Medicina e a Oftalmologia vão seguir este turbilhão e a informatização do futuro, o uso da inteligência artificial e a robotização vão proliferar. As imagens vão poder ser analisadas automaticamente e comparadas. O diagnóstico vai ter “cábulas” informáticas e o tratamento vai ser planificado ao milímetro com a IA autónoma. A personalização da medicina de acordo com cada doente, com o seu genoma, vai avançar. O oftalmologista passa a ser o maestro das novas tecnologias. Lá voltaremos a ter de falar da velhinha relação médico-doente …

Fernando. Zilhargo escreveu três artigos no Público em 1999, que por acaso recortei. Artigos com 26 anos que adivinharam com tiro certeiro o que viria a ser o futuro “pós-pós” ( industrialização, digitalização).

O medo da perda de emprego exemplificado com o dactilógrafo e a chegada dos computadores é compreensível. No entanto, na prática, os desafios de trabalho daqueles que evoluem passaram a ser cada vez maiores. No Guardian aparece um artigo que sugere que vamos ficar mais estúpidos com a IA, porque usamos menos o raciocínio e a memória.

Os ajustes a grandes evoluções são normais e desejáveis, mas quem passa por eles não se apercebe nem gosta.

Provavelmente assim será no amanhã de mais um quarto de século.

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